Como as línguas nascem e perdem força

Vida é sinônimo de movimento constante. E a língua, como um fenômeno cultural vivo, passa por fases, ou seja, nunca está estática. É por isso que, em linhas gerais, elas seguem um fluxo natural de nascimento, crescimento, reprodução e morte – bem semelhante ao ciclo humano, não é mesmo?

Saber ao certo como nasceram as mais de 7.000 línguas faladas no mundo atualmente é tarefa, digamos, praticamente impossível. Tempos atrás, existia uma hipótese chamada monogenética, que dizia que as línguas, sem exceção, eram derivadas do hebraico. Essa visão estava atrelada ao conhecimento bíblico. 

Porém, com a evolução e desenvolvimento das línguas em todo o mundo, essa possibilidade nunca pôde ser realmente confirmada, sobretudo em razão da grande diferença entre as estruturas linguísticas que se descobriu tempos depois. Devido a essa enorme complexidade, os estudos científicos nessa área acabaram esfriando.

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Uma língua dá origem a outra

Existe uma linha de estudos linguísticos que aponta a chamada proto-indo-europeia como a raiz central de onde surgiram diversas outras línguas que são faladas hoje em várias regiões do planeta. Aqui estão incluídos países das Américas, da Europa e até a Índia, e idiomas como o hindu, o sueco, o inglês e o português. 

Não existe certeza quanto a origem do proto-indo-europeu. Alguns estudiosos do assunto falam que surgiu na Anatólia, hoje a Turquia, há cerca de 9 mil anos. Há também uma outra linha de pensamento que acredita que veio 5 mil anos atrás ao norte do Mar Negro.

Se de um lado não sabemos ao certo a origem das línguas, por outro lado é possível ter uma boa ideia de como elas perdem força e desaparecem. Isso acontece, essencialmente, de duas formas. Ou uma língua é substituída por outra, ou então uma língua desaparece junto com o fim de sua comunidade de falantes. Em ambos os casos, são processos lentos, que podem durar séculos.

Com relação ao fim de uma língua junto com sua comunidade, isso acontece quando a população acaba perdendo poderio econômico, ou a emigração é mais forte que as taxas de natalidade, e a comunidade perde mais do que ganha indivíduos. Esse processo muitas vezes está ligado à devastação da natureza e ecologia.

O Império Romano como exemplo

Já no caso da substituição, o que ocorre geralmente é um domínio de uma cultura sobre a outra, com a mais forte prevalecendo sobre a mais frágil. Trata-se de um processo impositivo cultural. A língua do invasor acaba tomando conta, os hábitos vão mudando e, pouco a pouco, o hábito do dominador acaba sendo incorporado. 

Foi dessa maneira que desapareceram, por exemplo, o Etrusco, na Itália, o Celta, as línguas germânicas e o árabe, que tiveram grande relevância em parte da história da Península Ibérica. Trazendo para mais perto da nossa realidade, a colonização portuguesa trouxe a língua portuguesa para a região que se tornou hoje o Brasil, suprimindo uma série de línguas indígenas.

O Império Romano é um exemplo clássico dessa imposição de uma língua sobre a outra, ou a morte e o nascimento de uma língua. O domínio romano teve função chave na propagação e na construção de línguas faladas hoje.

Na ocasião, o latim, uma língua derivada do proto-indo-europeu, era muito falada no entorno de Roma. E, junto ao avanço do império, com a conquista de novos territórios, o latim era imposto ao povo dominado. Só que as pessoas naturalmente mudavam pronúncia, acrescentavam palavras e davam contornos diferentes da língua latina. 

À medida que o império se desfazia, as diferenças linguísticas ficavam mais evidentes. Assim surgiram os dialetos, que depois se transformaram em idiomas propriamente ditos.