Um estudo inédito liderado pela Universidade Nacional da Austrália (ANU), de Camberra, chama a atenção para um fato importante: até o final do século presente, mais de 1.500 idiomas ameaçados de extinção podem simplesmente deixar de existir. Ou seja, a diversidade linguística está por demais ameaçada. 

É verdade que cada idioma falado pelo mundo está sujeito a pressões de ordem social, demográfica e política específicas. Porém, é prudente destacar que também pode haver processos de ameaça comuns, sobretudo aos fenômenos que estão no nosso cotidiano. E foi sobre eles, essencialmente, que o estudo se debruçou.

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O trabalho publicado em dezembro passado na revista Nature Ecology and Evolution analisou 6.511 línguas faladas com 51 variáveis considerando aspectos de população, documentação, reconhecimento legal, política educacional, indicadores socioeconômicos e características ambientais. 

E mostrou que, ao contrário da percepção comum que se tem nesse assunto, o contato com outras línguas por si só não é um fator que impulsiona a perda de linguagem.

Estradas e escola como pontos importantes

Um fato curioso que envolve o estudo é com relação a um risco específico para a eliminação de idiomas. Trata-se da maior densidade de estradas, que pode encorajar pessoas a se deslocarem mais e, assim, perder a identidade do idioma local.

De acordo com a professora Lindell Bromham, coautora do estudo, “quanto mais estradas houver, conectando o país à cidade, e vilas às cidades, maior o risco de as línguas serem ameaçadas”, explicou.

Outro ponto interessante da pesquisa é com relação à maior média de anos de escolaridade, que também está associada a um maior risco de extinção de uma língua. Isso deixa claro que a educação formal e dentro dos moldes tradicionais pode contribuir para a perda da diversidade linguística o que, a princípio, parece um contrassenso. 

Intervenção imediata para frear o processo

Na visão de Lindell Bromham, nada menos do que a metade das 7 mil línguas conhecidas no mundo hoje em dia correm o risco real de desaparecer. A professora vai além. Prevê que, se não houver uma intervenção que ocorra a partir de agora, essa perda de linguagem poderia simplesmente triplicar dentro dos próximos 40 anos, com pelo menos um idioma perdido por todos os meses.

O estudo, por fim, aponta que, para evitar a perda de mais de 1.500 idiomas até o final do século, é preciso que haja um investimento urgente em três pontos principais: documentação linguística, programas de educação bilíngue e, por último, diferentes programas baseados na comunidade.

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