Foto: Greg Rakozy on Unsplash

Já parou para pensar que os idiomas podem influenciar na forma em que entendemos as realidades de tempo e espaço? Não de hoje existe esse debate: será que a forma de pensar é universal e nada tem a ver com a linguagem ou é a partir do idioma que moldamos os nossos pensamentos?

Não são muitos os pesquisadores que acreditam que, nos tempos atuais, os idiomas moldam inteiramente os pensamentos. Contudo, vem crescendo o número de especialistas que apostam que as línguas podem impactar a forma como pensamos.

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Profissionais como neurocientistas, os próprios linguistas e até psicólogos estão tentando faz tempo compreender como os idiomas influenciam os nossos pensamentos. Às vezes, concentram-se em ideias abstratas, como o tempo e o espaço, porém, não é fácil conseguir resultados baseados na ciência.

Lera Boroditsky, cientista cognitiva e uma das pioneiras das pesquisas sobre como o idioma interfere nos pensamentos, afirma que os falantes do inglês naturalmente observam o tempo como uma linha horizontal. Nesse contexto, por exemplo, eles podem transferir reuniões para frente ou trazer os prazos para trás. 

Além disso, tendem também a compreender o tempo como se movimentando da esquerda para a direita, ou seja, da maneira em que a língua inglesa é escrita. Seguindo a mesma lógica, os nativos de hebraico fazem o percurso inverso, isto é, leem e escrevem da direita para a esquerda, e percebem o tempo seguindo a mesma direção.

Outro exemplo interessante são os falantes de mandarim, que olham para o tempo como uma linha vertical, sendo o passado a parte de cima e a de baixo, o futuro. Interessante que, da mesma forma que ocorre com inglês e hebraico, também está em conformidade com a forma em que o mandarim era tradicionalmente lido e escrito, ou seja, linhas verticais, começando de cima em direção para baixo.

Como fica a questão do tempo para os bilíngues?

Ao observar as mentes de pessoas fluentes em mais de um idioma, tudo parece ficar um pouco estranho. Por exemplo, bilíngues de mandarim e inglês moradores de Singapura demonstraram preferência pelo mapeamento do tempo mental da esquerda para a direita. Porém, reagiram com rapidez às imagens ordenadas no tempo se o botão do futuro estivesse localizado abaixo do botão do passado, na mesma sintonia com o idioma mandarim, o que não deixou de ser surpreendente.

Assim, há indícios que os bilíngues podem apresentar duas visões diferentes de direção do tempo, no caso de aprenderem os dois idiomas logo cedo. Mas, não estamos presos a pensar de uma certa maneira para o resto da vida. 

Futuro para trás ou para frente?

Um outro exemplo interessante é que, em inglês, além de vários outros idiomas europeus, geralmente observamos o passado na posição atrás de nós e o futuro, à frente.

No entanto, no idioma aimará, falado pelo povo que vive na região dos Andes da Bolívia, Chile, Peru e Argentina, a palavra futuro significa “tempo atrás”. A lógica é que, como não podemos enxergar o futuro, ele deve estar atrás de nós. Curioso, né?

E isso acontece na prática. Quando os aimarás se referem ao futuro, fazem gestos voltados para trás. Já os falantes de espanhol, por exemplo, que veem o futuro à frente, fazem exatamente o contrário, ou seja, apontam para frente.

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