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O dia 21 de fevereiro é uma data especial para todos os que valorizam a língua como patrimônio vivo da humanidade. Neste dia, comemora-se o Dia Internacional da Língua Materna, que tem o objetivo de proteger as línguas faladas em todo o planeta, bem como promover as diversidades linguísticas e culturais.
A escolha da data, porém, não foi à toa. Faz menção direta ao evento trágico que aconteceu em 1952, na cidade de Daca, capital de Bangladesh. Na ocasião, estudantes acabaram mortos pela polícia enquanto protestavam e reivindicavam o reconhecimento da sua língua, o bengalês, como um dos dois idiomas oficiais do então Paquistão. Esse momento, inclusive, foi fundamental para a obtenção da independência de Bangladesh, em 1971.
“Nós todos sabemos que a cultura é a mais básica identidade de uma população, e a língua é o veículo mais forte da cultura. Portanto, esse movimento de defesa da língua, de defesa da nossa própria identidade, acabou guiando a autonomia do povo bengalês”, comenta Zulfiqur Rahman, Embaixador de Bangladesh no Brasil.
Lembrete pela preservação e luta pelas línguas
No 20º aniversário do Dia Internacional da Língua Materna, celebrado em 2019, a Unesco trouxe o assunto à tona e deixou um recado bastante claro: as línguas precisam de uma atenção especial. Na visão da agência das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura, todas as línguas maternas merecem não apenas ser conhecidas e reconhecidas, mas também ter maior relevância na vida pública.
Na visão da Unesco, uma língua materna é importante no processo de alfabetização porque facilita no desenvolvimento de habilidades básicas de leitura e escrita considerando os primeiros anos escolares. Tais habilidades garantem os fundamentos essenciais para o desenvolvimento pessoal. Além disso, a língua materna também é uma expressão única da diversidade criativa e da identidade, bem como fonte de conhecimento e inovação.
Em suma, são ferramentas valiosas para construir a paz e apoiar o desenvolvimento sustentável.
Contudo, o momento atual inspira cuidados e é oportuno ligar o sinal de alerta, já que nem sempre é dessa maneira que as coisas acontecem. As línguas maternas nem sempre possuem o status de línguas nacionais ou oficiais, ou mesmo são usadas na instrução. Isso, de acordo com a Unesco, pode levar à desvalorização da mesma, e ser a mola propulsora para o seu desaparecimento definitivo no longo prazo.
Hoje, estima-se que existam mais de 7 mil línguas em todo o mundo, e metade delas corre um risco iminente de sumir do mapa. Essa situação dramática acomete principalmente os indígenas, que correspondem a maioria desse número de línguas. Muitos povos indígenas, que somam cerca de 370 milhões de pessoas, continuam sofrendo com a discriminação e a marginalização.
Caminhada longa pela frente
“A cultura e a língua de um povo estão intimamente inter-relacionadas. O fim de uma língua pode significar a perda de um conhecimento vital que poderia ser aproveitado para o progresso da humanidade e para o próprio desenvolvimento sustentável. É por meio da língua que os conhecimentos, costumes e rituais são passados de geração para geração. Preservar as línguas e garantir a diversidade cultural e o multiculturalismo são fundamentais para a construção de sociedades mais inclusivas e justas”, afirma Marlova Noleto, diretora e representante da Unesco no Brasil.
Porém, há ainda muito para ser feito. Por exemplo, raramente as línguas maternas dos estudantes são usadas na educação nos primeiros anos escolares. Segundo dados fornecidos pela Unesco, quase 40% das pessoas em todo o mundo não têm acesso à educação em uma língua que falam ou entendem.
Essa situação continua, mesmo com estudos demonstrando que o domínio de uma língua materna facilita a aprendizagem de forma geral, incluindo o estudo de outras línguas.