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Já se passaram mais de 130 anos desde o fim da escravidão que tomou o Brasil, num triste capítulo de nossa história. Embora muitos avanços tenham sido conquistados desde então, essa herança ainda está presente no cotidiano, infelizmente. Afinal de contas, foram mais de três séculos de construções racistas no país.

Porém, sempre é tempo de combater os atrasos, e é exatamente isso o que um grupo de jovens universitários está fazendo. Jornalistas em formação na Universidade Positivo (UP), em Curitiba (PR), criaram uma série de vídeos curtos que explicam, de forma bastante didática, expressões preconceituosas presentes na língua portuguesa.

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Mais do que expor expressões inadequadas que às vezes permanecem em nosso inconsciente, o projeto intitulado “Não Fale a Língua do Racismo”, indica sinônimos para substituí-las, abrindo um novo horizonte para os cidadãos que utilizam o português a todo instante.

Desconstruir expressões e rever o vocabulário

De acordo com Higor Paulino, idealizador do projeto, o intuito do Não Fale a Língua do Racismo é chamar a atenção para o tema e, também, desconstruir expressões que validam estereótipos e trazem um peso negativo para a sociedade. 

Ainda segundo Paulino, o racismo está presente nas nossas vidas, faz parte da nossa cultura porque está na nossa língua, e muitas vezes nem nos damos conta disso. Para o estudante de jornalismo, a linguagem é influenciada por vários fatores, como região, época e classe social de uma pessoa. 

A ideia, diz Paulinho, nasceu após reflexões oriundas nas aulas da disciplina de Mídia, Gênero e Etnia, sobretudo após a leitura do livro Pequeno Manual Antirracista, de Djamila Ribeiro, publicado pela Companhia das Letras.

A professora do curso de jornalismo, Sandra Nodari, responsável pela disciplina, reconheceu o valor do trabalho de seus alunos e foi atrás de uma parceria para levar o material mais longe. Logo, conseguiu que Não Fale a Língua do Racismo fosse exibido no Canal Futura, das Organizações Globo. Agora, a série está disponível no Futura Play.

“O processo todo foi encantador. Uma disciplina teórica produziu discussões excelentes e resultou em programas educativos que vão instigar as pessoas a pensar sobre como evitar palavras racistas”, comentou Sandra Nodari.

Expressões vinculadas ao período escravocrata

Quantas vezes já reproduzimos algumas expressões sem pensar sobre o que está por trás delas? Por exemplo, “criado mudo”. Ele mesmo, aquele móvel que fica geralmente ao lado da cabeceira da cama, tem ligação com o passado escravocrata. Na realidade, refere-se ao homem escravo que ficava em pé, segurando algum objeto do senhor, em silêncio.

Outro exemplo é “a coisa tá preta”. Esta fala faz a associação entre o “preto” e uma situação difícil, delicada e até mesmo perigosa. Ou seja, não é nada saudável dizer ou escrever isso.

O mesmo vale para “meia tigela”. Na época da escravidão, os negros que não realizavam todo o trabalho imposto pelos senhores eram punidos com o recebimento de apenas meia tigela de uma refeição. Dessa forma, esses escravos recebiam o apelido de “meia tigela”, que depois virou sinônimo de algo medíocre.

Quando temos informação aliada ao conhecimento, fica mais fácil não cometer esses graves erros. Portanto, uma dica: compartilhe essas informações, sempre.