A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), desde 2002 língua oficial do país junto com o português, é conhecida como o ponto central de comunicação entre os surdos brasileiros. Apesar de suas particularidades, a Libras, como toda língua que se preze, também é um organismo vivo, e se modifica conforme a cultura, região, idade e até gênero.
A bem da verdade é que muitas pessoas não sabem, mas a Libras não é uma língua universal. Muda conforme o país, pois respeita as particularidades da população. Mais do que isso, acaba sendo diferente dentro de uma mesma nação, fato que podemos chamar de regionalismo.
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Por exemplo, na língua portuguesa, farol e semáforo têm o mesmo significado, mas são usados conforme a região do país. O mesmo vale para tangerina e mexerica, bem como para mandioca e macaxeira e pão francês e cacetinho.
Variações na língua portuguesa e na língua brasileira de sinais
Essa variação natural da língua (seja ela qual for) ocorre também em meio à Libras. Os deficientes auditivos acabam por criar sinais diferentes para se comunicar, o que pode incluir conceitos, objetos e até mesmo lugares. Até a contagem dos números um ao dez muda conforme o Estado.
Importante ressaltar: aqui, não existe a ideia de certo ou errado. São apenas regionalismos que, na realidade, enriquecem a língua de sinais.
A cerveja, uma das bebidas preferidas dos brasileiros, é um exemplo dessa variação. Em São Paulo, essa bebida é representada com um giro do punho como uma meia-volta. Já em Minas Gerais, para pedir a famosa “gelada”, o sinal de Libras é bater os dedos indicador e médio no lado do rosto.
Um outro ponto importante das variações das Libras é com relação às mudanças sofridas pelo tempo. Ou seja, um sinal da língua oficial dos surdos pode mudar de acordo com os costumes de uma geração para outra. De novo: não há certo ou errado, tampouco a ideia de melhor ou pior. São diferentes, tão somente.
Libras: uma língua viva
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, a professora Sueli Ramalho, aluna da disciplina Linguística na Língua de Sinais, oferecida pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), disse que conheceu de perto esse regionalismo. Surda, Sueli é filha de mãe carioca e pai paulista.
“Eles continuaram com os sinais de origem e o entendimento se manteve. Todas essas diferenças mostram a riqueza da língua. Ela é viva e deve ser explorada, explicada e ganhar cada vez mais visibilidade”, comentou Sueli Ramalho.
Alguns especialistas no tema dizem que esses regionalismos provam que a Libras não se limita a uma representação por sinais, como se fosse uma espécie de mímica. Vai muito além disso. A língua de sinais, portanto, resulta da troca entre os surdos brasileiros. Afinal de contas, a língua oficial do Brasil conta com morfologia, sintaxe e regras gramaticais únicas. E quanta beleza há nesse fato, não é mesmo?