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O hindi e o inglês são as duas línguas oficiais da Índia no plano federal. Mas, o assunto línguas no país está além desses dois importantes idiomas. O país reconhece como oficiais outras 22 línguas, considerando as regionalidades da enorme e populosa nação asiática. Entre elas está o sânscrito, uma língua muito antiga, inclusive considerada morta. Na prática, porém, não é bem assim.
Atualmente, cerca de 70 mil pessoas falam e escrevem em sânscrito no mundo. Com a facilidade da internet, nasceu a oferta de estudos de sânscrito em vários países, como Estados Unidos e Espanha, por exemplo.
Na Índia, existem aldeias nas quais o sânscrito ainda é falado como língua principal. Na aldeia de Mathur/Mattur, em Karnataka, por exemplo, pouco mais de 90% da população conhece o sânscrito, e utiliza o idioma na comunicação do dia a dia.
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Claro, dada a dimensão do país, o sânscrito tem pouca presença hoje em dia, apesar dos esforços recentes do governo para expandi-la entre a população indiana. Porém, a língua está mais viva do que nunca.
Outro exemplo? Há um jornal diário publicado em sânscrito, o Sudharma, lançado na década de 1970, em papel, e hoje disponível online (www.sudharma.epapertoday.com).
Uma língua vinculada à espiritualidade
A bem da verdade é que o sânscrito está ligado à história da Índia, sua cultura e tradições espirituais e religiosas. Durante séculos, foi a linguagem litúrgica do Hinduísmo, do Budismo e do Jainismo. É por esse motivo que é encarada como algo além de uma língua.
Ademais, uma grande parte das memórias antigas do país está disponível em inscrições em sânscrito que, calcula-se, tem cerca de 3.000 mil anos.
Os Vedas, os textos mais clássicos do hinduísmo, foram escritos em sânscrito por volta do século XV a.C. Isso significa dizer que é uma língua relacionada com a dimensão espiritual do hinduísmo. Trata-se de uma língua complexa para traduzir porque, de certa forma, em sua essência, expressa aquilo que transcende as palavras.
Não à toa o sânscrito é considerado a “língua dos deuses” porque, de alguma forma, dizem os estudiosos, toca o coração dos que estudam e ouvem. É como se conseguisse conectar mente e coração, e permitisse um acesso a um plano superior. As palavras do sânscrito são consideradas puras, já que por meio delas é possível comunicar os princípios de sabedoria.
Além disso, é considerada a base de grande parte das línguas vivas indianas na atualidade, ou seja, teve grande importância na consolidação de outras línguas. Inclusive, está presente no vietnamita e o tailandês. Para a língua portuguesa, esta língua classificada como indo-europeia, emprestou palavras como ioga, guru, mantra e nirvana.
Características do sânscrito
Por sua enorme relevância em tempos antigos, a influência do sânscrito, que pode significar “aquilo que foi bem feito”, “consagrado” e “santificado”, assemelha-se ao latim e ao grego, que tiveram grande importância na cultura europeia.
Trata-se uma língua de grande complexidade morfológica. Sua escrita está baseada na fonética. Dessa forma, todos os sons estão representados graficamente.
Conhecido pelo termo devanagari (deva=divindade e nagari=urbana), o alfabeto da língua possui 46 letras, das quais 9 são vogais e 37 são consoantes. Porém, sua força é simplesmente avassaladora. Dizem que sânscrito tem o poder de dizer uma frase em um número mínimo de palavras mais do que qualquer outro idioma.
Por fim, estudiosos da língua indiana explicam que há uma distinção entre o sânscrito védico e o sânscrito clássico, que surgiu depois. Contudo, em linhas gerais, as duas variedades acabam sendo muito similares. Diferem apenas em alguns pontos da fonologia, gramática e vocabulário.