O desenvolvimento da língua falada ainda é um grande mistério. Não se sabe ao certo o momento em que os idiomas passaram a fazer parte do cotidiano dos seres humanos. Alguns pesquisadores acreditam que homens e mulheres já utilizavam gestos para se comunicar antes mesmo do desenvolvimento da língua falada.
Contudo, saiu um novo estudo do Leibniz-Centre General Linguistics por meio do qual os cientistas apontam que os sons vocais devem ter exercido um papel importante ainda nos primórdios da linguagem. Segundo o estudo, que saiu na Scientific Reports, pessoas de culturas diferentes conseguem trocar informações por meio desses sons.
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Interessante é que o estudo utilizou somente sons vocais, sem gestos ou palavras. Um som vocal, é bom que se diga, seria, por exemplo, reproduzir a mastigação caso alguém desejasse falar sobre o ato de comer. Esses são os sons usados como dados no estudo.
Estudo com 28 línguas diferentes
A pesquisa tomou como base algumas vocalizações gravadas por estadunidenses. No total, eram 90 sons para exatos 30 significados, ou seja, três sons para cada. O estudo dividiu esses sons em diferentes categorias: humanos e animais; entidades inanimadas; propriedades; palavras que se referem à quantidade e pronomes demonstrativos.
As palavras utilizadas no estudo, por exemplo, criança, homem, mulher, faca, fogo, pedra, cozinhar, esconder, cortar, grandes, pequenas, entre outras, podem ter tido fundamental importância na origem da linguagem. E hoje são bastante utilizadas em diferentes idiomas.
Assim, as gravações foram mostradas a 843 pessoas de 28 línguas diferentes, entre elas alemão, sueco, chinês e armênio. Em um primeiro momento, a pessoa escutava o som vocal em um computador e era colocada diante de seis palavras, escolhendo a que considerava correta. Caso não soubesse a resposta e recorresse ao famoso “chute”, a chance de acerto era de 16,7%.
Os falantes do inglês se saíram muito bem, optando pela resposta correta em 74% das vezes. Na outra ponta, o menor índice de acerto ficou com os tailandeses, que atingiram 52%. E, quando comparada à chance de acerto no “chute”, o índice ainda é considerado alto.
Com relação às categorias, algumas apresentaram melhores índices de acerto do que outras. A lista foi encabeçada por “ações”, com 70,9%. Depois, aparecem “entidades” (67,7%), seguida de “propriedades” (58,5%) e “pronomes demonstrativos” (44,7%).
Teste em outras comunidades e conclusão
O passo seguinte do estudo foi aplicar o mesmo teste em comunidades nas quais a linguagem escrita não é predominante. Logo, as alternativas apareciam na forma de imagens, e os participantes apontavam a alternativa que julgavam correta. Aqui, o índice de acerto com chute era de 8%. Porém, responderam de forma correta em 34% das vezes.
Por fim, os cientistas acabaram concluindo que os sons vocais, bem como os gestos, são capazes de reproduzir com fidelidade uma ideia. E isso leva a crer que a vocalização exerceu função essencial no nascimento dos primeiros sistemas linguísticos.
Por ora, os pesquisadores não devem se debruçar para descobrir quem surgiu antes, se foi a gesticulação ou a fala. Porém, certamente vão procurar compreender como os gestos e sons vocais podem ter funcionado em união para a evolução da linguagem.