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São Paulo completou 466 anos no último dia 25 de janeiro. E o desenvolvimento da cidade que se tornou a maior da América Latina passa, necessariamente, pela língua e suas peculiaridades. Sim, é possível dizer que São Paulo tem um idioma à parte, com sotaques e características únicas, que podemos chamar de paulistanês.

Quando fazemos uma retrospectiva da história da cidade, notamos diversas influências que deram vida ao paulistanês, ou seja, no modo de se expressar do seu povo. A começar pelos índios, que tinham uma grande variedade de línguas; quase 400 quando se volta à época do descobrimento, sobretudo o famoso tupi.

Na sequência, apareceram os portugueses, que chegaram de diferentes regiões daquele país com pronúncias específicas, que modificaram a forma de expressão dos que aqui estavam. Vale lembrar também dos escravos, que vinham de países africanos trazendo diversas línguas e sotaques. E podemos destacar ainda os imigrantes, que vieram contribuir com a riqueza cultural e pluralidade da capital paulista.

Influências do italiano, japonês, espanhol…

Nesse contexto, um fato curioso está na mudança do sotaque paulistano. Por exemplo, até o final do século 19, o caipira predominava em São Paulo, mas acabou naturalmente sendo passado para o interior do Estado, além do Triângulo Mineiro e Sul e de Minas, onde está presente e com força total até os dias de hoje. A modernização da cidade, que deixou de lado alguns traços arcaicos, foi a mola propulsora desse processo.

Aliás, quando se fala em sotaque aqui no Brasil, imediatamente vem à mente a pronúncia da letra R, principalmente quando está no final de sílaba. Palavras como “portão”, “jornal” e “mulher” são exemplos típicos. Na cidade de São Paulo, duas pronúncias se destacam. A intitulada “R retroflexo”, é o famoso R caipira, muito presente em comunidades periféricas. A outra é chamada “R tepe”, mais seco, como na palavra “pirata”, por exemplo.

E o curioso aqui é que os nativos falantes do paulistanês não acreditam que têm sotaque. Muitos acabam falando que se trata do “português correto” ou “linguagem padrão”. Divertido, não?

Outro ponto interessante é a influência das mais de 70 nacionalidades, seja de visitantes ou comunidades de imigrantes que convivem na cidade de São Paulo. Obviamente, esses grupos seguem influenciando o modo de falar dos paulistanos.

Exemplos não faltam. No bairro do Bom Retiro, há enorme concentração de coreanos, que levam um pouco de sua cultura para a região. O mesmo acontece com japoneses e chineses na região da Liberdade, com os bolivianos no Pari, com o italiano nos bairros do Brás, Mooca, Bixiga e Barra Funda, além da comunidade sírio-libanesa, muito presente na região central da cidade. O paulistanês é, portanto, resultado dessa união de povos.

Características do paulistanês

Como toda língua que se preze, o paulistanês tem suas características próprias. Um jeito bem típico das pessoas que vivem em São Paulo se expressarem é por meio da abreviação de palavras. Afinal de contas, o tempo é algo sempre precioso na metrópole. Logo, é normal as palavras perderem as últimas sílabas, e se tornarem gírias. Churras (churrasco), facul (faculdade) e parça (parceiro), ilustram essa realidade.

Os nomes próprios não escapam dessa mania paulistana, e comumente também são abreviados. A Flávia vira apenas Flá, o Daniel se torna o Dani, a Isabela passa a ser a Isa, o Julio vira o Ju, a Fernanda é a Fê e assim vai.

Os paulistanos também adoram deixar de lado a letra R no final de verbos no infinitivo. Por exemplo, tô a fim de “corrê” amanhã de manhã. Vamos comigo, amiga? Ou também eliminar a letra D de verbos no gerúndio. Por exemplo, vamos comer pipoca “assistino” o jogo de futebol?

Por fim, usar palavras oriundas do inglês é mais uma característica interessante do paulistanês. Vários verbetes têm origem em outros países, principalmente da língua inglesa, que acabam recebendo modificações. Por exemplo, a “vibe” está boa hoje, vamos aproveitar! Ou, não estou no clima, estou na “bad”. 

Há ainda uma infinidade de palavras com significados próprios. Vejamos alguns exemplos:

azedar = algo que deu errado.

brow = amigo, camarada

causar = fazer baderna, confusão

feijuca = feijoada

motoca = motocicleta

orra = admiração, espanto, deboche

se pá = talvez, se der certo

vazar = sair, ir embora

O paulistanês é rico, divertido e plural, tal como a cidade que representa.

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