A Grécia é um país incrível. E se você um dia for visitá-lo e chegar ao vilarejo de Pera Melana, nas montanhas ao sul da península do Peloponeso, ouvirá uma língua pouco comum, chamada tsakoniano, com mais de 3 mil anos. A língua tem futuro incerto, e corre sérios riscos de desaparecer. Mas existe um grupo de pessoas disposto a mantê-la viva.
A missão não será das mais fáceis. Hoje, o idioma está restrito a apenas 13 cidades, vilarejos e aldeias localizadas nos arredores de Pera Melana. E a estimativa é que apenas 2 mil dos 10 mil tsakonianos falem a língua tsakoniana, a grande maioria idosos.
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Trata-se da língua viva mais antiga da Grécia, inclusive precede o grego moderno em cerca de 3.000 anos, figurando como uma das mais antigas línguas de toda a Europa. Vale ressaltar também que o tsakoniano é o único legado contínuo dos antigos espartanos – os falantes desse idioma descendem da antiga Esparta, a cidade-Estado grega.
Mais dentro do que fora de casa
Apesar de o grego ser a língua oficial da região, o tsakoniano costuma ser falado dentro das residências e, às vezes, em público. Ambos os idiomas contam com um alfabeto semelhante, porém o tsakoniano tem mais símbolos fonéticos e difere na estrutura e na pronúncia quando comparado ao grego. Aliás, o tsakoniano parece mais próximo do grego antigo do que do grego moderno.
“Se perdermos nosso idioma, não podemos afirmar que somos tsakonianos”, explica a professora e escritora Eleni Manou, que vive em Leonídio, a capital da região da Tsakonia.
Ao longo dos séculos, o tsakoniano acabou sendo preservado em comunidades agrícolas isoladas, que transmitiram a língua de geração em geração de forma discreta. No final dos anos 1950, cerca de 5 mil pessoas ainda falavam tsakoniano.
Contudo, esse número reduziu pela metade nas décadas seguintes. O fato de o grego moderno ter se tornado a língua nacional em 1976 contribuiu para isso, bem como a estigmatização do tsakoniano como uma língua camponesa.
Na realidade, muitos pais não queriam que seus filhos aprendessem a língua. Até a década de 1990, a língua ainda era ensinada junto com o grego em algumas escolas locais. Só que não demorou muito para o idioma ser considerado apenas uma disciplina opcional. Atualmente, quase não existem escolas nesses vilarejos, pois poucas crianças vivem lá. Ou seja, não ter uma nova geração mais jovem para aprender a língua é um grande entrave quando se pensa na perpetuação dessa cultura.
Força para manter a chama da língua viva
De qualquer forma, hoje existe um grande movimento em favor da língua, capitaneado sobretudo por professores, filólogos e até mesmo políticos. Há um esforço para, no mínimo, dar à língua o respeito que ela merece. Por exemplo, em Leonídio, é possível ver placas bilíngues em tsakoniano e grego.
O tsakoniano foi se consolidando historicamente como uma língua oral. Os dórios, em razão de seu modo de vida simples, utilizavam a linguagem somente em casos de necessidade, ou seja, pouco escreviam. Essa é uma das razões pelas quais existem poucas palavras em tsakoniano, entre 8 mil e 10 mil. Se comparar com os 5 milhões do grego moderno…
Por conta da pandemia de covid-19, pela primeira vez surgiram aulas online de tsakoniano, que pode ser uma grande oportunidade para não apenas manter a língua viva, como também expandi-la cada vez mais.