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Faz pouco tempo que os comandantes do futebol brasileiro abriram uma brecha maior para a chegada de técnicos de futebol estrangeiros. Hoje em dia, os grandes clubes do país têm optado com mais frequência por profissionais com outras culturas e bagagens profissionais.
Em 2019, por exemplo, o Flamengo trouxe o português Jorge Jesus, que fez história por aqui. Seu substituto foi o espanhol Domènec Torrent. Atualmente, vale citar os argentinos Hernán Crespo, do São Paulo, e Ariel Holan, do Santos, o espanhol Miguel Ramírez, do Internacional, e o português Abel Ferreira, do Palmeiras.
Essa nova tônica tem movimentado o aspecto linguístico. A grande maioria desses técnicos estrangeiros está se dedicando aos estudos da língua portuguesa para vencer os desafios das línguas diferentes e facilitar o trabalho no dia a dia, já que a profissão exige muito diálogo, principalmente com os jogadores. Aulas particulares e cadernos de exercícios tornaram-se parte do trabalho diário.
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Na Europa, é mais comum essa imersão da língua local. Um bom exemplo é o português José Mourinho, hoje técnico do Tottenham, na Inglaterra. Ele é fluente em cinco línguas. Outro profissional que ilustra bem essa realidade é o espanhol Pep Guardiola. Antes de assumir o Bayern de Munique, em 2013, Pepe contratou uma professora particular de alemão e iniciou o trabalho dominando a língua.
Disposição para falar português
A postura desses técnicos atuantes no Brasil é de se admirar. Até porque, não faz muito tempo, outros profissionais que trabalharam em grandes clubes brasileiros não faziam muita questão de falar português. Foi assim com o argentino Edgardo Bauza e o colombiano Reinaldo Rueda. E, mais recentemente, com o argentino Jorge Sampaoli, que passou duas temporadas no Brasil e só se comunicava em sua língua original, o espanhol.
Logo que chegou ao Brasil, em março último, Holan falou que o seu compromisso era também falar português ou ‘portunhol’. Por isso, contratou um professor. E aproveita os voos para estudar. O resultado pode ser visto nas entrevistas que concede, nas quais utiliza palavras na língua portuguesa.
Já o espanhol Ramírez, do Inter em Porto Alegre, por enquanto mais comedido em falar português, tem se dedicado com afinco aos estudos do português. Parece ser uma questão de tempo para se pronunciar com o nosso idioma.
Respeito pela cultura, mas com desafios
Para Crespo, aprender o português é uma questão de respeito pelo país, com o lugar onde está e com as pessoas. O comandante argentino, que diz também que o aprendizado é culturalmente interessante, conta que acaba falando três idiomas no seu cotidiano. Conversa em italiano com sua filha, uma vez que morou na Itália por mais de uma década, fala em espanhol com sua equipe técnica, além do português.
Segundo Adrián Pablo Fanjul, professor livre-docente em Língua Espanhola da USP, aprender português é, de certa maneira, um desafio aos profissionais estrangeiros, mais pela conversação do que pelo conteúdo escrito.
Para ele, a sonoridade é mais complicada, porque a língua portuguesa, sobretudo a praticada no Brasil, conta com sons que não existem no espanhol. E isso exige muito estudo por parte do aprendiz. Por outro lado, os treinadores podem focar em conteúdos voltados à linguagem futebolística.