Nheengatu: indígenas trabalham para fundar a 1ª Academia da Língua

Com o objetivo de valorizar a tradicional língua indígena, escritores e professores do Amazonas se uniram e estão trabalhando para fundar a primeira Academia da Língua Nheengatu. Também conhecida como Língua Geral, o Nheengatu, considerada a língua mãe da Amazônia, já foi proibida por antigos colonizadores na região.

Em síntese, a intenção da Academia é fortalecer a língua indígena, com a presença, por exemplo, de cursos em universidades brasileiras, bem como desenvolver estratégias de ensino do Nheengatu, que devem impactar positivamente comunidades e grupos online.

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A iniciativa da Academia, que começou a ganhar corpo em meio à pandemia, precisamente em junho de 2020, é coordenada por 21 membros de várias regiões da Amazônia, a maioria dos estados do Amazonas e do Pará.

Dicionário, Biblioteca e materiais didáticos

Em meios às conversas virtuais, o grupo percebeu que existem formações paralelas, feitas por indígenas e não indígenas, para além de escolas e instituições. Daí a importância de se organizar os trabalhos da língua.

Entre as atividades previstas para a Academia da Língua Nheengatu estão produzir e atualizar constantemente um Dicionário Ortográfico e Unificado da Língua Geral Amazônica no Brasil; criar e manter atualizada uma biblioteca digital de materiais históricos e atuais, científicos e didáticos sobre a língua; e, ainda, promover e apoiar a produção de materiais didáticos para ensino do Nheengatu nas comunidades indígenas.

No passado, a língua indígena foi duramente criminalizada, sobretudo no período da Cabanagem, revolta popular que ocorreu em 1835, na região do antigo Grão-Pará – Pará, Amazonas, Amapá, Roraima e Rondônia. 

Os indígenas foram proibidos de se comunicar utilizando o Nheengatu porque poderiam auxiliar os líderes do movimento, que se encerrou apenas em 1840. No entanto, os estudiosos dizem que essa língua continuou sendo a mais falada, o que permaneceu até 1900, aproximadamente.

Resistência indígena

Com certeza, essa sobrevivência da língua se deu por conta da resistência de determinados grupos, na medida em que continuavam falando, contando histórias aos filhos etc. Ou seja, a lógica da língua indígena continuou sendo preservada, graças à insistência dos povos. 

Hoje, ela é muito falada, por exemplo, no Alto Rio Negro. Em São Gabriel da Cachoeira, por conta de sua forte presença, é considerada uma das línguas indígenas oficiais.

No início deste ano, criou-se um grupo no WhatsApp para troca de informações sobre a Academia. Hoje, o ambiente de conversas virtuais conta com mais de 100 participantes. Diariamente, os membros conversam na língua de seus povos, discutem dialetos, criam glossários e ensinam traduções.