Brasília recebeu no último mês de fevereiro a 2ª Conferência Internacional das Línguas Portuguesa e Espanhola (Cilpe), uma iniciativa da Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI). O evento reuniu autoridades, acadêmicos e especialistas de 23 países ibero-americanos que falam um dos dois idiomas para tratar sobre a situação desses idiomas no mundo contemporâneo.
As conversas nos três dias de evento giraram em torno do reforço da presença do português e do espanhol no contexto global e, sempre com a ideia de ampliar a influência dessas importantes línguas nos campos da ciência, da cultura e da inovação tecnológica.
Como expandir a presença internacional dessas línguas?
Hoje, calcula-se que a população falante de português e espanhol esteja na casa dos 850 milhões de pessoas, número que deve crescer consideravelmente nos próximos anos. De acordo com projeções da Organização das Nações Unidas (ONU), a expectativa é chegar a 1,2 bilhão ainda neste século.
Embora sejam expressões da identidade dos povos, as línguas também são formas de poder que reverberam em diversas áreas como economia, ciência, cultura, geopolítica, entre outros temas. Esse foi o pano de fundo para que os países integrantes da OEI criassem a conferência, ainda em 2019.
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A primeira edição do evento ocorreu em Lisboa, em Portugal. Após a edição brasileira, a conferência ocorrerá novamente em 2023, desta vez no nosso vizinho Paraguai.
Línguas relevantes e de cooperação mútua
“O primeiro objetivo dessa conferência é demonstrar a relevância e a capacidade de difusão que essas duas línguas possuem, trazendo ao conhecimento público a grande potência que elas são nas artes, na cultura, na ciência. Também queremos reforçar a capacidade de compreensão mútua entre os dois idiomas. São línguas que facilitam a comunicação e a compreensão mútua, por isso essa atuação articulada”, afirma Raphael Callou, diretor da OEI no Brasil.
Apesar de serem consideradas línguas de alcance global, português e espanhol, juntos, representam aproximadamente 15% das publicações científicas internacionais, percentual considerado abaixo do potencial real das duas línguas. A título de comparação, o inglês representa sozinho cerca de 80% da produção intelectual publicada em revistas e periódicos científicos, embora seja falado por cerca de 1,3 bilhão de pessoas.
Durante o evento, especialistas lançaram o site Línguas em Números, que traz um ranking de como diversos idiomas estão distribuídos pelo mundo, considerando não apenas o número de falantes, mas fatores como a presença desses idiomas na internet, redes sociais e o número de artigos científicos e produção cultural.
“Ainda temos muito caminho a percorrer porque se não estivermos fortes na tecnologia, na inovação e ciência, se não implementarmos os pilares da CPLP, se não tivermos essa presença digital, mais qualificação dos cidadãos dessas línguas, podemos ter um grande número de falantes, mas não conseguiremos ser uma língua global”, alertou Ana Paula Laborinho, diretora geral de Bilinguismo e Difusão da Língua Portuguesa da Secretaria geral da OEI.
Segundo Callou, a OEI vai produzir um relatório com recomendações para que os países-membros da organização criem políticas públicas de promoção do espanhol e do português em diferentes áreas, inclusive a ciência.
Uma das propostas é a criação de mecanismos que valorizem o reconhecimento de periódicos e publicações científicas que publiquem nesses idiomas. Até porque a própria OEI observou um aumento nas publicações em inglês vindas de pesquisadores que têm como língua materna o português ou o espanhol.